(texto a propósito da exposição Ensaios sobre a (in)flexibilidade do natural – parte 2, curadoria de Andreia César)

 

A abordagem ao imaginário do Mundo Natural que encontramos na pintura de Maria Condado, firma-se sobre o género da paisagem segundo um sentido representacional particular e profundamente sensível. A sua pintura parte e dirige-se ao visível, sendo na concomitância entre o percecionado e o sentido que se encontra a matéria da sua expressão. Desta “ruminação do mundo”[1] resulta a construção de cenários, de pequenos habitats, povoados por espécies animais e/ou botânicas, uma vezes mais e outras vezes menos conhecidas, aos quais se estabelece como indissociável o pensamento sobre a agência humana na dominação e criação do seu meio.

Dentro de uma exploração artística regida pela negociação entre o natural e o artificial, a artista indaga a ideia da construção de uma natureza idealizada enquanto que, simultaneamente, produz pictoricamente essas frações de natureza manifestas na conceção de jardim.

Desde a superfície fulgurante (com os seus lagos rasos e ricas florestações), às profundezas da terra e dos oceanos, pelo calor harmonioso das formas e das cores, Maria Condado apresenta-nos assim o encerramento do natural que, tanto como circunscrição do território como enclausuramento de um animal selvagem, remete para um constrangimento conceptual onde, na sombra da paisagem idílica, se reconhece a germinação de uma reflexão crítica.

 

Andreia César

 

 

 

[1] Merleau-Ponty, Maurice (2009), O Olho e o Espírito, Lisboa, Vega, p. 17.